Conheça o biocarvão, que aumenta a produtividade do solo e a renda dos agricultores
Um inovador experimento de campo em pastagens para gado utilizando o biocarvão mostrou o aumento da produtividade do solo.
Um inovador experimento de campo em pastagens para gado utilizando o biocarvão, material rico em carbono obtido por um processo queima controlada de biomassa, mostrou o aumento da produtividade do solo, gerando um acréscimo potencial de receita anual para os agricultores envolvidos. O termo biocarvão é a fusão de duas palavras: biomassa ecarvão.
Segundo o estudo, o biocarvão apresenta uma prática mais ambientalmente sustentável, porque pode emitir menos carbono para a atmosfera. Os resultados da pesquisa foram publicados em artigo na revista científica Agriculture, Ecosystem & Environment.
O trabalho foi conduzido por pesquisadores do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio), núcleo de pesquisa da PUC-Rio. Os resultados mostraram que o uso de biocarvão no tratamento de pastagens para gado aumentou a produtividade do solo, gerando um acréscimo potencial de receita anual para os agricultores envolvidos.
O grupo controle reflete a maioria dos pastos hoje no Brasil. Os produtores não costumam usar potencializadores de solo, o que denota, normalmente, um pasto degradado
Agnieszka Latawiec, professora do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio e Diretora de Ciência do IIS
Uma fazenda em Itaguaí (RJ) foi o local do experimento, que contou com participação ativa dos produtores locais.
A pesquisa buscou entender e comparar o impacto de oito insumos no cultivo de três tipos de capim forrageiro (Marandu, Paiaguás e Piatã), tipicamente usados na pecuária. Um dos insumos usados foi o biocarvão, também conhecido como biochar.
Os ganhos de produtividade se traduziram em receita anual adicional de US$ 1.291 para o marandu, US$ 1.183 para o piatã e US$ 991 para o paiaguás, em comparação com o grupo controle do estudo, um trecho de pastagem sem adição de nenhum suplemento.
Biocarvão e sequestro de carbono
Agnieszka Latawiec, professora do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio e Diretora de Ciência do IIS afirma que, quando comparada a queimadas sem controle, a técnica reduz a emissão de gases do efeito estufa.
O biocarvão é mais estável do que outros tipos de biomassa não pirolisadas. O carbono presente no biochar fica muito mais tempo preservado no solo, evitando sua decomposição e, consequentemente, sua emissão para a atmosfera. Por isso, o biocarvão é hoje apontado como uma das modalidades de sequestro de carbono, contribuindo diretamente para mitigar as mudanças climáticas. Sendo assim, pode entrar no mercado de créditos de carbono e beneficiar ainda mais os proprietários da terra a partir dos pagamentos por serviços ambientais.
Assista o vídeo sobre produção e aplicação de biocarvão
Resultados promissores
A pesquisa analisou, ao longo de dois anos, o impacto de oito diferentes insumos na qualidade do solo e na produtividade de Marandu, Paiaguás e Piatã, três tipos de capim forrageiro usados para pastagem de gado. A maior produção de biomassa foi observada nos cultivos de Piatã e Marandu que receberam biochar puro com concentração de 30t/ha.
A maior produtividade foi alcançada pelo Paiaguás fertilizado com amendoim forrageiro associado ao biocarvão. Após quatro colheitas, houve aumento nos níveis de potássio nos solos que receberam o biocarvão, revelando seu potencial para recuperar pastagens degradadas, a maior parte dos 160 milhões de hectares dedicados à pecuária no Brasil.
É o primeiro estudo que analisa de forma abrangente o uso de diferentes fertilizantes em pastagens, considerando aspectos ambientais e socioeconômicos em uma abordagem inclusiva com os produtores rurais.
“Para que a ciência seja de fato aplicada na agricultura, é preciso que as práticas de administração do solo sejam desenvolvidas em conjunto com as comunidades rurais”, ressaltam os pesquisadores no artigo. Os proprietários de terras estiveram envolvidos nas sucessivas etapas do estudo: na elaboração da pesquisa, na execução do experimento e na interpretação dos resultados. “Esse tipo de abordagem facilita o intercâmbio de conhecimento entre cientistas e fazendeiros, com cada categoria se beneficiando da experiência e da visão do outro”, concluem.
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O estudo foi coordenado por Agnieszka Latawiec, do IIS e do CSRio (PUC-Rio). Colaboraram ainda para a pesquisa Embrapa Agrobiologia, Embrapa Solos, UFRRJ e Universidade do Estado de Santa Catarina.
Sobre o CSRio
O Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio) é um núcleo de projetos e pesquisas da PUC-Rio. O CSRio funciona como um centro tradicional com equipe multidisciplinar e como um centro de síntese em rede, organizando e hospedando estudos com especialistas e instituições de excelência (inter)nacionais com o objetivo final de inserir efetivamente a conservação da natureza nos processos de decisão público e privado.
Sobre o IIS
Fundado em 2009 no Rio de Janeiro, o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) é um think-and-do-tank independente, voltado para a compreensão da relação entre o ser humano e demais elementos da natureza. O Instituto desenvolve pesquisas, capacitações e ferramentas para promover uso sustentável da terra, em particular a conservação da biodiversidade, provisão de serviços ecossistêmicos, manejo sustentável do solo, mitigação e adaptação às mudanças climáticas e desenvolvimento socioeconômico das pessoas envolvidas nesses processos.
O IIS tem participado e oferecido subsídios à Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD) e Mudanças Climáticas (UNFCCC), a governos nacionais e locais, assim como a organizações do setor privado. Nos últimos 14 anos, foram mais de 25 projetos financiados por organizações como o Global Environmental Facility (GEF); a Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (NORAD); a Fundação Gordon & Betty Moore; o Ministério Federal Alemão do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU); o Global Challenges Research Fund (GCRF) do Reino Unido; o World Wide Fund for Nature (WWF); o governo do Estado de São Paulo; o Instituto Serrapilheira, entre diversas outras.
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