Entenda qual será o impacto do El Niño nos cinturões de produção do Brasil e do mundo
Para entender melhor os efeitos provocados pelo fenômeno El Niño e antecipar o produtor rural sobre os efeitos nas lavouras do Brasil e do mundo, a equipe de reportagem do Portal Rural News conversou com a meteorologista da Climatempo, Nadiara Pereira.
O El Niño corresponde ao aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Melhor para uns e ruim para outros. Devido à dimensão territorial do Brasil, essa será a realidade sobre os efeitos que ele causará de Norte e Sul do Brasil.
Em suma, a previsão é de um El Niño de forte intensidade, com predominância de mais chuvas na região Sul e estiagem no Norte e Nordeste. Mas como o clima é muito volátil, isso não representa mudanças nesse prognóstico ao longo dos próximos meses.
A meteorologista da Climatempo aponta um momento de transição climática, chamando a atenção inclusive dos profissionais acostumados a líder com previsões cotidianamente. “A La Niña chegou ao fim em março e estamos entrando em um processo de aquecimento rápido do Pacífico, induzindo o surgimento do El Niño até o início de inverno e fim de outubro”, comenta.
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O El Niño é um fenômeno conhecido por impactar a distribuição das chuvas no Brasil, como nos extremos do País, no Sul e nas regiões entre o Norte e o Nordeste. “O fenômeno vai contribuir com o aumento dos índices de chuvas na região Sul, favorecendo principalmente o Rio Grande do Sul, drasticamente afetado nos últimos meses pela estiagem, responsável por perdas consideráveis na safra”, destaca. Ou seja, no Rio Grande do Sul e na Argentina, o El Niño trará alívio para a seca. “Vamos observar o aumento de umidade neste mês de maio, na região Sul e na Argentina, devendo contribuir para o plantio das culturas de inverno”.
Se na região Sul e previsão é de umidade, no Norte será o oposto. Na região conhecida como Matopiba, formada por áreas majoritariamente do cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o efeito do El Niño será o oposto, com seca, colocando em risco naquela região, a safra 2023/24.
A área localizada na parte central do Brasil, não sentirá os efeitos do fenômeno tão intensamente. “A característica do El Niño é tornar a atmosfera mais aquecida, então devemos ter um segundo semestre mais quente, reduzindo o risco de frio extremo no centro-sul do Brasil durante o inverno. Isso reduzirá os efeitos na cana-de-açúcar, café e milho segunda safra”. A previsão é de retorno das chuvas um pouco mais cedo, no início da primavera.
Pelo mundo
O El Niño não causa impacto somente no Brasil, mas no globo como um todo. Os Estados Unidos podem ter uma safra de verão um pouco mais úmida em relação ao ano passado. “No ciclo anterior, algumas regiões produtoras americanas enfrentaram chuva em alguns momentos, gerando reflexos na produtividade. Para esse ano, a expectativa é de mais umidade ainda. O plantio está avançando bem e o solo já se encontram com índices de umidade nas regiões produtores, com estimativa de um ciclo bom”, salienta. Com base nesse prognóstico, a expectativa é de uma boa produção nos EUA.
Já na Ásia e na Oceania, os impactos são negativos. Além do El Niño, há uma oscilação chamada de Polo do Oceano Índico, quando essas alterações estão na fase positiva e acopladas ao El Niño, motivam um risco maior de estiagem. “Podemos ter impacto na Índia com risco de seca e reflexos na produtividade de cana-de-açúcar, abrindo mercado para o Brasil. Pode também ter risco de estiagem no Vietnã, importante produtor de café e na Austrália, também com expectativa de chuvas abaixo da média nos próximos meses”. Além disso, a Austrália é um grande produtor de trigo, podendo gerar impactos na produtividade.
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Na América do Sul, a Argentina tende a se recuperar um pouco. “Eles [argentinos], foram muito mais prejudicados pela estiagem do que os gaúchos, com uma das piores safras dos últimos anos. Para esse ano, por conta da estiagem, a estimativa é de recuperação a partir do El Niño, que proporcionará um pouco mais de umidade no solo”.
Há um risco iminente da colheita do trigo no Brasil precisar lidar com a umidade na região Sul. “O El Niño traz um risco maior para tempestades, deixando a atmosfera mais quente e risco de ondas fortes de calor”, enfatiza da meteorologista da Climatempo.
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